Niki Lauda caminhava tranqüilo para seu segundo título mundial quando bateu na primeira volta do GP da Alemanha, em Nurburgring, dia 1º de agosto de 1976.
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O acidente em Nurburgring |
Inerte dentro do carro, o capacete tendo caído de sua cabeça, Lauda queima horrivelmente o rosto e as mãos, a ponto de um jornal sensacionalista alemão ter estampado a manchete “Meu Deus! Onde foi parar o rosto de Niki?”.
Mas isso não foi o mais grave. Lauda respirou os gases da gasolina em combustão, ferindo gravemente os pulmões, o que torna crítica a oxigenação do seu sangue. Como os fiscais de pista simplesmente não trajavam roupas anti-chamas e os extintores disponíveis eram insuficientes para conter o incêndio, Lauda foi salvo pela coragem de Arturo Merzario e outros pilotos que se expuseram às chamas vivas para resgata-lo.
Lauda diz não se lembrar de nada sobre o acidente, a não ser o vago ruído de um helicóptero. A única vez em que associou algum estado mental aos acontecimentos de Nurburgring foi em 84, depois de fumar um baseado de haxixe. Ele o descreveu como o desejo de cair num “poço muito profundo” e considerar boa, mesmo desejável, essa perspectiva.
Removido para um hospital próximo ao autódromo, o estado de Lauda foi definido como desesperador. Nos dois dias seguintes, a taxa de oxigênio do seu sangue era inferior à necessária para manter a vida, de forma que um padre ministrou-lhe a extrema-unção.
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Lauda sendo resgatado, por fiscais e alguns pilotos |
Mais uma semana e ele seria transferido para um hospital austríaco e dias depois para casa, onde se recupera rapidamente. Na convalescença, Lauda perde dois GPs, Áustria e Holanda, mas se sente forte o bastante para anunciar seu retorno no GP da Itália, que seria disputado em 12 de setembro.
Enquanto isso, a Ferrari armava o seu já tradicional circo. Enzo Ferrari, minutos depois do acidente, falando por telefone, da Itália, encontrou sangue frio o bastante para espinafrar o seu chefe de equipe, que estava a caminho do hospital para onde Lauda havia sido removido. “De Lauda cuidam os médicos”, grunhiu Enzo. “Volte à pista e vá falar com Emerson, para ele vir correr no lugar de Lauda”. Emerson, imerso até o pescoço no projeto do Copersucar Fittipaldi, declinou o convite e a vaga fica para o argentino Carlos Reutemann, cansado de esperar por um carro competitivo da Brabham.
Lauda disse, mais tarde, que considerou um acinte a equipe tê-lo considerado carta fora do baralho tão rápido e isso certamente funcionou como um motivador para seu fulminante retorno às pistas, o que aconteceu na semana do GP da Itália, em um teste na pista particular da Ferrari.
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Lauda no GP da Itália de 1976 |
Na sexta-feira, 10 de setembro, primeiro dia de treinos, acontece o inusitado: chove em Monza, fato raríssimo a ponto da pista ser a única com tradição na Fórmula 1 a nunca ter um GP disputado sob chuva.
É fácil imaginar o extraordinário interesse da imprensa, especializada ou não, pelo retorno ao volante do temerário "homem sem rosto". A Fórmula 1 sempre foi um esporte de massa mas a maioria dos historiadores associa os acontecimentos de 76 à aceleração do crescimento da popularidade da categoria, projetando-a para os patamares atingidos hoje. Havia, claro, as transmissões ao vivo pela TV para todo o mundo, a força promocional cada vez maior, alavancada pelos patrocínios, a expansão para novos mercados (76 foi o primeiro ano da Fórmula 1 no Japão, por exemplo) mas havia, acima de tudo, o conflito humano vivido por Lauda. A pressão sobre ele nos dias imediatamente anteriores à corrida deve ter sido inimagináveis.
Na sexta-feira, já dentro do carro, pronto para ir à pista, Lauda sofre uma crise de pânico, grave o bastante para leva-lo a abandonar o autódromo. Imaginem o que se pensou do gesto do austríaco…
No hotel, ele raciocinou friamente sobre o ocorrido e concluiu que havia cometido o grave erro de se impor ser tão veloz quanto era antes do acidente. Assim, decidiu que, no sábado, não se dobraria a qualquer pressão por desempenho. Apenas sentaria no Ferrari e o curtiria devagar.
O que se viu então em Monza foi, sem dúvida, um dos momentos máximos de coragem e superação de um piloto de Fórmula 1. Ao final do treino de sábado, Lauda havia sido o 5º mais rápido, deixando para trás, inclusive, seus dois companheiros de equipe, Reutemann e Clay Regazzoni.
Domingo, mais um acontecimento bizarro envolvendo Lauda e sobre o qual só vi recentemente um comentário dele.
Naquele tempo, os procedimentos de largada não eram tão uniformes como hoje, sendo mudados constantemente, mesmo porque não havia uma definição tão clara quanto hoje sobre o alcance da autoridade esportiva local versus o regulamento global da Fórmula 1.
Assim, em Monza estava sendo introduzido a largada por semáforo e ninguém se preocupou em avisar Lauda.
E foi assim que ele se atrapalhou na largada, como pode ser visto claramente no vídeo do Youtube, caindo da 5ª para a 12a posição ao final da primeira volta.
Mas Lauda se recuperaria brilhantemente durante a corrida, terminando-a em 4º lugar e mantendo vivas as suas esperança de chegar ao título da temporada.
Em 82, quando decidiu retornar às pistas, viajou ao Brasil para consultar o cirurgião plástico Ivo Pitanguy. Animado, o médico começou a traçar planos detalhados para recompor o rosto do austríaco, minorando as marcas de queimadura e reconstruindo as suas orelhas. As propostas de Pitanguy, no entanto, foram recusadas peremptoriamente: Lauda queria apenas tratar de uma pálpebra que o incomodava.
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Lauda nos dias de hoje |
texto original: Eduardo Correa (GPTotal)
GUERREIRO ESSE NICK LAUDA....PARABÉNS!!!
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